segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

Os Amores e os Bonsais


Este fim-de-semana, porque estive impedido de fazer uma das coisas de que mais gosto, tive a oportunidade de fazer uma outra, que também me proporciona sempre um enorme prazer, que é cuidar dos meus Bonsais e dar-lhes toda a dedicação que eles exigem para estarem sempre saudáveis e salutares, mas a qual, por razões várias, tem andado um pouco abandonada e esquecida. Obviamente, este abandono, esquecimento, falta de atenção e ausência teve consequências negativas. Esta falta de cuidado tem como mais que provável consequência, infelizmente, a morte de dois deles, sobrando apenas um, ainda que tudo tenha feito para os salvar!

Por vezes, gosto de comparar o cuidado que é necessário ter para com os Bonsais, com o amor e as relações amorosas ou as pessoas enquanto participantes numa relação deste género. Há pessoas que em vez de um coração, têm uma árvore com vários ramos. E se um deles parte ou morre é prontamente cortado ou podado para, imediatamente, crescer um outro para fazer a mesma função ou suprimir a falta deste, agora, com a frescura do que é novo ou novidade. Para estas pessoas o amor não passa de uma sucessão de êxitos ou fracassos, conforme dê mais jeito.

O amor é bom, é óptimo e pode trazer-nos a maior das felicidades. Mas também “exige”, assim com as pequenas árvores, uma grande dose de condensação, bom senso, constância, condescendência e disponibilidade física e emocional. Uma relação entre duas pessoas é tudo menos simples e nunca é fácil escolhermos a nossa árvore, a quem prometemos cuidar, podar e regar, sempre, para que o sentimento não caia com a chegada do Outono ou morra durante o Inverno porque não soubemos cuidar dele. Mas, para quem carrega a árvore ao peito, a escolha de quem cuida de si, utilizando preceitos nem sempre entendíveis, não convence ninguém senão o próprio que se tenta enganar! Como li uma vez num livro, “não amamos quem queremos, como queremos e porque queremos. Amamos como podemos, e muitas vezes contra a nossa vontade, remando contra todas as marés, envoltos no mistério de uma escolha que não é feita por nós, mas por uma força que nos é superior à qual os místicos chamam destino, os cientistas chamam química e os portugueses chamam fado. Quando olhamos para o lado e pensamos ‘mas afinal porque é que eu gosto tanto desta pessoa’ e nos apercebemos que esse amor encerra um mistério inexplicável, então é porque existe mesmo amor.”

O amor nunca pode ser baseado na acomodação, na rotina, na receio de uma mudança, que ao primeiro olhar possa ser criticado ou não percebido, na teimosia de não se querer sentir derrotado de uma relação falhada, ou, ainda mais grave, no gostar apenas, no carinho e na pena. Este, por mais que se tente, nunca terá força para nos fazer sentir verdadeiramente completos! Mas esta perspectiva é a de quem tem coração. Para quem tem uma pequena árvore, com os seus ramos, este discurso não convence. A acomodação ou a rotina pode ser igualmente boa e o medo da crítica e da derrota podem ser aliados de peso na hora da escolha ou decisão. O que satisfaz poderá ser alguém entre o não aborrecer demasiado, que esteja por perto e que seja útil, dentro e fora da cama, e o encaixar ou ajustar-se minimamente à nossa personalidade!

Quando, apenas, se gosta não se tem aquele cuidado de aprimorar a arvorezinha, com aqueles pormenores que fazem toda a diferença, como sejam, o arrancar das folhas velhas, cortar os ramos que crescem, indesejáveis, e ameaçam toda a harmonia e equilíbrio do conjunto, podar sempre que necessário, para mantê-la forte e saudável, mudar a terra e cortar as raízes com alguma frequência, como se de um novo renascer e uma lufada de paixão se tratasse! E, enquanto isso, deixa-se a árvore crescer, sem reparar que ela vai perdendo a força e o vigor, numa abstracção disfarçada e ignorando o que, entretanto, vai destoando.

Quem vive assim, pode viver, ou não, feliz com a vida que tem, satisfeita e orientada. Com o rumo dos acontecimentos mais ou menos controlados. Até que a pequenina árvore adoece, repentinamente, por falta de cuidados paliativos provocando uma tempestade comovedora que acaba por matá-la para sempre!

4 comentários:

A Gaja disse...

Eu tenho um livro sobre bonsais, queres que te empreste?

O Gajo disse...

Por acaso, já tenho três. Mas não custa nada ver sempre mais um! Obrigado! Um dia destes emprestas-mo!;)

Angel disse...

Os amores são mesmo como os bonsais: por mais cuidados que tenhamos com eles, acabam sempre por morrer :PPPPPPP.

O Gajo disse...

Angel,

Permita-me discordar de si. Os amor, quando bem tratados e cuidados, podem durar uma vida inteira. O que acontece é que, no amor, à semelhança do que aconteceu com o meu bonsai, o desleixo, a falta de atenção ou carinho acaba por matá-lo!